Capítulo II: Dimensões

Neste capítulo, pretendo propor um método de análise para a interatividade na cultura digital. Pretendo destacar as operações que diferenciam as possibilidades comunicacionais dos mecanismos de interação que atuam no ciberespaço. Identificando este conjunto de possibilidades, acredito ser possível instrumentalizar uma avaliação das condições de significação destes mecanismos, vis a vis os objetivos que motivam seu desenvolvimento e sua utilização. Ou seja, se puder distinguir como os mecanismos da interatividade se comportam em relação aos elementos que diferenciam sua operação, será possível discutir as eficiências de um mecanismo particular em relação a um objetivo comunicacional específico como: seria melhor utilizar uma ferramenta de chat ou um servidor de mailing list (lista de email) para produzir um debate entre alunos de um curso superior?

Os mecanismos específicos serão analisados no próximo capítulo, que conclui a construção metodológica que aqui se inicia. Vale notar que não pretendo tratar de manifestações de interatividade decorrentes da cultura digital que ocorram fora do ciberespaço. O objetivo desta análise é permitir a comparação entre si dos mecanismos que operam nos ambientes digitais. Também não pretendo discutir, em especial, se tal ou qual característica identificada como relevante era ou não presente em mecanismos de interatividade anteriores à cultura digital.

Tomando o fenômeno da interação de maneira genérica, vou partir do questionamento de quais seriam indagações centrais que deveriam compor minha análise. Embora a proposição da análise seja a abrangência, vou abandonar, intencionalmente, o questionamento de operações cujas conseqüências para a significação se produzam, prioritariamente, em função das qualidades do discurso praticado, ao invés de decorrer das possibilidades dos sistemas de interatividade utilizados no ciberespaço. Por esta razão, decidi não considerar discussões acerca da linguagem, muito embora reconheça ser a linguagem a matéria prima dos mecanismo de interatividade e, portanto, seu estudo, em contraposição à interatividade, deve ser incluído em um projeto mais abrangente de uma análise desta última. As quatro questões que são investigadas neste capítulo são:

  1. Qual a natureza dos agentes da interação?

  2. Que elementos da interação condicionam a produção de sentido?

  3. Como se comporta o tempo em relação à interação?

  4. Quais as características do espaço em que ocorre a interação?

Em minha proposição analítica, cada uma destas perguntas corresponde a uma dimensão específica da interatividade na cultura digital. Escolhi nomeá-las como dimensões em função da conclusão de que os questionamentos selecionados implicam diversos fatores que se comportam de maneira independente. Quando analiso o comportamento do tempo em face das condições de interatividade em um mecanismo de comunicação da cultura digital, posso perceber vetores e polaridades que condionam a temporalidade em vários aspectos. Ora, um conjunto de vetores caracteriza um espaço, porém o objeto em análise é sempre o mesmo: a interatividade. O que varia é o foco da análise, portanto estamos olhando o mesmo objeto em diversas dimensões. Lembrando que a interatividade que nos interessa é a aquela que produz significação, estabeleci as seguintes dimensões:

  1. Dimensão do Agente – quem significa

  2. Dimensão do Sentido – como significa

  3. Dimensão do Tempo – quando significa

  4. Dimensão do Espaço – onde significa

Para cada uma destas dimensões, procuro identificar quais são os eixos que diferenciam as ocorrências da interatividade. Por vezes, vamos ter caracterizações discretas: em relação ao aspecto X a interatividade pode ser A, B ou C. Por outras, teremos continuidades: em relação ao aspecto Y, a interatividade se distribui entre os extremos A e B. Neste segundo caso, não vou tentar estabelecer uma relação matemática que permita mapear a interatividade dentro destes contínuos. Vou estabelecer referências para estes eixos, por meio de pontuações arbitrárias: em relação ao aspecto Y que se distribui entre os extremos A e B, a interatividade se aproxima dos pontos C, D ou E. Esta proposição esquemática pretende derivar, no capítulo posterior, a construção de uma tabela que permita caracterizar os mecanismos de interatividade a serem analisados.

Sendo a interatividade na cultura digital um fenômeno complexo que abriga diversos mecanismos, a validade da análise se constrói a partir de sua capacidade de informar estratégias de interação, que se destinam a diferentes objetivos de comunicação. Neste capítulo, não vou tomar o universo atual dos mecanismo de interatividade como ponto de partida, mesmo porque não é verdade que todas as possibilidades da cultura digital já tenham sido pragmatizadas em tecnologias específicas. Vou pautar minha análise na problemática estabelecida pela operação da virtualização. Em cada uma das dimensões, parto das possibilidades interativas que resultam do movimento de virtualização da própria interatividade que, por conseqüência, implicam a virtualização do agente, do sentido, do tempo e do espaço.